Fundação Carlos Alberto Vanzolini foi contratada por R$ 1,5 milhão para realizar auditoria nas empresas Transwolff e a UPBus, ambas investigadas desde abril por suposta ligação com a facção criminosa e que continuam sob intervenção do Executivo após determinação judicial


As empresas Transwolff e UPBus, alvos nesta terça-feira (9), de operação do Ministério Público de SP. — Foto: Acervo Pessoa/Divulgação

As empresas Transwolff e UPBus, alvos nesta terça-feira (9), de operação do Ministério Público de SP. — Foto: Acervo Pessoa/Divulgação

A prefeitura de São Paulo contratou uma organização privada para realizar auditoria independente nas empresas de ônibus Transwolff e a UPBus, que atuam respectivamente nas Zonas Sul e Leste da capital.

A contratação foi publicada no Diário Oficial desta sexta-feira (2) pela Secretaria Executiva de Transporte e Mobilidade Urbana (Setram). Quem realizará a auditoria será a Fundação Carlos Alberto Vanzolini pelo valor de R$ 1.540.000.

Em nota ao g1, a pasta informou que o objetivo é "para prestar serviços de avaliação independente dos processos de operação e gestão nas concessionárias Transwolff e UPBUS, com o objetivo de dar apoio ao trabalho das equipes dos comitês de intervenção nas duas empresas".

"As empresas citadas seguem sob intervenção da gestão municipal, por deliberação da Justiça e determinação da Prefeitura. As equipes de intervenção também já realizam as análises do cumprimento dos contratos de concessão pelas operadoras sob intervenção, priorizando a manutenção da prestação de serviço de transporte público à população", ressaltou.


    Operação Fim da Linha

    Microônibus da empresa UPBus, que opera na Zona Leste de São Paulo e foi alvo de operação do Ministério Público de São Paulo. — Foto: Divulgação/UPBus

    Microônibus da empresa UPBus, que opera na Zona Leste de São Paulo e foi alvo de operação do Ministério Público de São Paulo. — Foto: Divulgação/UPBus

    Em 9 de abril deste ano, uma operação realizada pelo Ministério Público, Polícia Militar, Receita Federal e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) prendeu dirigentes das duas empresas de ônibus, que operam na capital paulista, por suspeita de envolvimento com o PCC.

    Ao todo, foram cumpridos 52 mandados de busca e apreensão na operação. As ações ocorreram na capital, Grande São Paulo e em cidades do interior paulista.

    No imóvel de um de Luiz Carlos Efigênio Pacheco, dono da Transwolff, foram encontrados diversos fuzis, revólveres, além de dinheiro e joias. Já o presidente afastado da UPBus, Ubiratan Antônio da Cunha, foi preso no dia 16 de julho.

    Armas encontradas em casa de dono de empresa de ônibus de SP — Foto: Divulgação/MP

    Armas encontradas em casa de dono de empresa de ônibus de SP — Foto: Divulgação/MP

    Segundo a denúncia do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a Transwolff e a UPBus receberam mais de R$ 5,3 bilhões da prefeitura desde 2015, ano da assinatura dos primeiros contratos de concessão com a SPTrans, para operação de linhas de ônibus nas zonas Sul e Leste da cidade.

    O Ministério Público protocolou denúncia contra 10 dirigentes e integrantes da Transwolff e 18 dirigentes e integrantes da Upbus. A Justiça aceitou e os tornou réus. Eles são acusados de crimes como organização criminosa e lavagem de dinheiro.

    Viaturas na garagem da Transwolff na Zona Sul da capital paulista  — Foto: Reprodução/TV Globo

    Viaturas na garagem da Transwolff na Zona Sul da capital paulista — Foto: Reprodução/TV Globo

    Lavagem de dinheiro e tráfico

    Durante quase cinco anos de investigação, os promotores do grupo de combate ao crime organizado (Gaeco) reuniram indícios de que as empresas eram usadas pela facção criminosa para lavar dinheiro do tráfico de drogas e de outros crimes.

    A suspeitas de que o crime organizado estava infiltrado no transporte público de São Paulo vêm desde os anos 1990, quando parte do sistema era operado por perueiros clandestinos, que faziam o trajeto entre os bairros mais afastados e os terminais de ônibus.

    Em 2003, a prefeitura da capital transferiu a operação das linhas para a iniciativa privada. Parte do sistema ficou com as grandes empresas de ônibus, e os itinerários mais curtos passaram a ser feitos por cooperativas. A maior delas era a Cooperpam, com sede na Zona Sul.

    Esquema entre empresas de ônibus suspeitas e o PCC em São Paulo — Foto: Arte/g1, com informações da Receita Federal

    Esquema entre empresas de ônibus suspeitas e o PCC em São Paulo — Foto: Arte/g1, com informações da Receita Federal

    Ao longo dos anos, segundo o MP, os dirigentes desta cooperativa montaram uma empresa e passaram a pressionar e até ameaçar os cooperados para que transferissem o controle da cooperativa para essa outra companhia, chamada de TW ou Transwolff.

    Além disso, segundo os promotores, os diretores se apropriavam de parte da remuneração dos cooperados.

    Dez anos depois, em 2013, quando o primeiro contrato de permissão da Prefeitura de SP chegou ao fim para todas as empresas, a Transwolff conseguiu assinar um contrato emergencial, que foi prorrogado durante anos, devido a um impasse no processo de concessão.

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    Um foragido da Justiça é acusado de fazer parte do PCC e comandar uma empresa de ônibus

    Só em 2019, depois que o TCM liberou a licitação, a prefeitura da capital assinou 32 contratos para a concessão das linhas de ônibus da cidade, por um prazo de 15 anos.

    No caso da UPBus, o Ministério Público afirmou que os diretores integravam a cúpula da facção criminosa. Um dos donos da empresa era Anselmo Bicheli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”.

    Anselmo foi assassinado e degolado em dezembro de 2021. A cabeça dele foi deixada em uma praça do Tatuapé, também na Zona Leste.

    Os promotores descobriram que outros chefes da facção criminosa fazem parte da direção da UPBus. Dois deles aparecem entre os sócios: Alexandre Salles Brito, chamado de Buiú, e Claudio Marcos de Almeida, o Jango. Eles já foram alvos de investigação por crimes graves como homicídios, tráfico de drogas, sequestros e roubo a bancos.

    Parentes dos investigados também entraram para a sociedade. Segundo a investigação, eles têm profissões ou exercem atividades econômicas incompatíveis com o capital investido na UPBus.

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    Investigação mostra ligação de empresas de ônibus da capital com o crime organizado; prefeitura assume Transwolff e UPBus










    Fonte: g1