'The Death of Slim Shady', novo álbum do rapper, tirou cantora do topo da parada americana após 12 semanas. Faz sentido: ambos conquistaram legiões de fãs com marketing em torno das próprias vidas; veja análise do g1.


Eminem foi o único que conseguiu desbancar Taylor Swift do topo da Billboard 200, a principal parada americana de álbuns. E pode parecer aleatório, mas faz sentido: os dois têm muito em comum.

"The Death of Slim Shady (Coup de Grâce)" é o novo álbum do rapper, lançado em 12 de julho. Com ele, Eminem conseguiu o equivalente à venda de 281 mil unidades nos Estados Unidos até o dia 18 deste mês.

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g1 analisa novo álbum de Eminem

No VÍDEO acima, o g1 analisa "The Death of Slim Shady (Coup de Grâce)", novo álbum de Eminem; assista

O bom número reflete um sucesso pavimentado mais de 20 anos antes. No ano 2000, Eminem chegou ao auge no disco "The Marshall Mathers LP", com músicas amplamente tocadas no rádio e na televisão. Entre elas, "The Real Slim Shady", uma sátira da fama e da criação de ídolos na cultura pop. que ironiza Britney Spears, Will Smith, Pamela Anderson, a MTV, o Grammy, o feminismo...

Àquela altura, Eminem já era, ele mesmo, um fenômeno cultural. Adolescentes do mundo todo imitavam seu cabelo loiro descolorido e o personagem Slim Shady -- seu alter ego desbocado -- era sensação.

Através da persona alternativa, Eminem conseguiu analisar a indústria da música, responder críticos e entregar aos fãs relatos bem pessoas sobre tudo que se passou e ainda se passava em sua vida.

Sem nunca se expor além do necessário, ele construiu um marketing tão eficiente em torno da própria vida que, em 2002, essa trajetória virou filme.

"8 Mile - Rua das ilusões" foi um sucesso de bilheteria (arrecadou mais de R$ 240 milhões no mundo todo) e ganhou um Oscar de melhor canção original.

Eminem no clipe da música 'The Real Slim Shady', lançada em 2000 — Foto: Reprodução/YouTube

Eminem no clipe da música 'The Real Slim Shady', lançada em 2000 — Foto: Reprodução/YouTube

Como um filme

Lembrou de alguém? Taylor Swift também tem como trunfo uma legião de fãs que acompanham sua vida através das músicas, como se fosse um filme.

“The Tortured Poets Department”, o álbum da cantora que foi substituído por "The Death of Slim Shady" na parada da Billboard, narra os dramas de dois términos de namoro, com relatos detalhados indicando o que pode -- ou não -- ter acontecido em cada um deles.

Para além do que é realidade e o que é ficção, Taylor sabe, melhor do que ninguém na música pop atual, confundir os limites entre seu repertório e sua vida privada.

Taylor Swift no Grammy 2024 — Foto: Valerie Macon / AFP

Taylor Swift no Grammy 2024 — Foto: Valerie Macon / AFP

Cada um faz do seu jeito: a cantora da Pensilvânia (EUA) é conhecida por ser uma grande letrista. Já o rapper do Missouri (EUA) se destaca pelo flow -- o jeito de rimar -- rápido e provocador.

Mas, se reparar bem, você perceberá que os dois artistas construíram fórmulas autocentradas, que deram certo, e insistiram nelas... a ponto de cansar.

O álbum é bom?

Em "The Death of Slim Shady", o novo disco, Eminem propõe a morte do personagem criado no início da carreira. Em termos de sonoridade, o trabalho transita entre o trap (vertente mais lenta do rap) e o clássico boom-bap, sem apresentar grandes novidades.

O maior problema está nas letras. Parecia promissora a ideia de fazer uma autocrítica ao alter ego do passado, mas, na maioria das 19 músicas, Eminem continua insistindo nas velhas piadinhas politicamente incorretas para chocar, que não fazem mais sentido no mundo de hoje.

Ele ridiculariza debates sobre padrões de beleza, diversidade, inclusão, linguagem neutra e direitos de pessoas transgênero -- Eminem se mostra particularmente obcecado por Caitlyn Jenner, socialite americana que anunciou sua transição em 2015 e é citada várias vezes ao longo das músicas.

Eminem durante o lançamento de "Southpaw", em julho de 2015 — Foto: Evan Agostini/Invision/AP/Arquivo

Eminem durante o lançamento de "Southpaw", em julho de 2015 — Foto: Evan Agostini/Invision/AP/Arquivo

O rapper está com raiva da cultura do cancelamento, de questões identitárias e da geração Z (dos nascidos a partir da segunda metade da década de 1990). Um sentimento resumido em "Antichrist". A letra diz:

"Parça, vamos com calma. Não precisa ficar tão magoado, tão pronto para surtar, se eu errar algum pronome."

Ele critica os mais jovens, mas, mesmo aos 51 anos, não consegue deixar de soar como um adolescente revoltado.

Se for para escolher uma faixa, vale ouvir “Guilty Conscience 2”, o ponto central do disco. Eminem faz rap com duas vozes diferentes, emulando o impasse final com Slim Shady. "Você me criou pra dizer tudo que não tinha coragem de dizer", diz a voz do personagem, que ao fim acaba morto com um tiro.

O bom flow continua lá, mas já não comove tanto com o que tem a dizer.







Fonte: g1